O Brasil Não Está Preparado
Face ao envelhecimento populacional, Estado precisa atuar na prevenção de doenças e pela qualidade de vida dos idosos de hoje e de amanhã.

Agência Brasil

O Brasil não está preparado para enfrentar os desafios na área da saúde impostos pelo crescente envelhecimento da população. A opinião é do professor Leandro Fraga, da Faculdade de Economia da USP.

Ele alertou que “há uma mudança no tipo de demanda de saúde da população – o Estado precisa se preparar para fazer face a essa mudança, ou teremos problemas relativamente sério no futuro”.
O aumento da longevidade no país é registrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde 1960 e aponta aumento de mais de 17 anos de expectativa de vida da população até hoje. Para os nascidos em 2006, essa expectativa média é de 72,3 anos. De acordo com dados do Ministério da Saúde, os idosos representam cerca de 18 milhões de brasileiros e, a cada ano, mais de 650 mil ultrapassam os 60 anos no País.
“O poder público vai ter que se preparar para uma série de doenças típicas de populações mais maduras”, alertou Fraga, para quem “é quase inevitável”, por exemplo, o aumento do número de casos de câncer, pois a medida que as pessoas envelhecem amplia-se o tempo de exposição a fatores de risco causadores da doença.
A nova realidade, disse, exigirá mais investimentos em prevenção, a fim de evitar custos futuros insustentáveis para o poder público. “Investir na detecção rápida das doenças exige do Estado uma mudança de postura bastante radical em relação ao que é feito hoje. Quanto mais cedo a doença for detectada, tanto melhor para o paciente e para o Estado, do ponto de vista dos gastos. Nós ainda estamos, infelizmente, muito distantes de uma situação próxima daquilo que seria necessário para enfrentar esse desafio”.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o aumento no número de casos da doença é uma tendência, não apenas no Brasil mas em todo o mundo.
Dos cerca de 470 mil novos casos previstos para este ano no País, é esperada para o Rio Grande do Sul a maior concentração da doença. Neste estado é registrada a maior taxa de longevidade do País.
“Números são conquista, não tragédia”
Coordenador da área técnica de Saúde do Idoso do Ministério da Saúde, José Telles destacou que embora o envelhecimento da população seja uma realidade desafiadora, já que em 2025 o Brasil deverá ter em torno de 32 milhões de pessoas acima dos 60 anos de idade, os números devem significar uma conquista da sociedade e não uma tragédia.
“Não significa que todas as pessoas estarão doentes. Quanto mais acesso à informação a população tem, quanto maior a escolaridade, maior a possibilidade de ela cuidar da sua saúde. A nossa expectativa é que em 2025 essa população de idosos terá maior qualidade de vida do que as pessoas que hoje têm 60 anos ou mais. Não devemos esperar números catastróficos”, disse.
Para Telles, as doenças com impacto na terceira idade podem ser prevenidas e evitadas com a promoção da saúde em todas as faixas etárias, oferecendo – além do acesso aos serviços de saúde – campanhas educativas para a redução de riscos por meio de alimentação adequada, prática de esportes e restrição no consumo de bebidas alcoólicas e tabaco.
Ações Práticas
Ele destacou as ações implementadas pelo Ministério para a terceira idade, como a distribuição, em 2007, de 7 milhões de cadernetas de Saúde do Idoso, que permitem registrar o acompanhamento médico recebido pelos portadores e a identificação de seus problemas de saúde, o que facilita o atendimento em situações de risco.
Lembrou, ainda, que os medicamentos para tratamento da hipertensão arterial e diabetes, que atingem grande número de idosos, foram os primeiros oferecidos pelo Governo com 90% de desconto na Farmácia Popular.
Outro dado apontado por Telles como indicador da melhora na atenção à saúde dos idosos foi o aumento dos valores aplicados na distribuição gratuita de medicamento para a Doença de Alzheimer, que passaram de R$ 96,3 mil em 2002, para R$ 7,2 milhões em 2006.
Entre 2004 e 2006, acrescentou, houve redução no número de internações hospitalares de pessoas acima dos 60 anos causadas por complicações cardiovasculares (de 652 mil para 634 mil) e decorrentes de problemas respiratório (de 433 mil para 391 mil). Foi registrado, no entanto, aumento no número de internações de idosos causadas por fratura decorrentes de quedas.